quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Linha do Tempo











Contextualização


A exploração econômica da América Portuguesa em meados do séc. XVII teve como principal atividade a empresa açucareira.
O açúcar era um produto muito cobiçado e de preço muito alto no mercado internacional. No início do séc. XVI a capitania de Pernambuco, despontou como uma das principais regiões produtoras da colônia e de todo o mundo. Em cerca de 50 anos o número de engenhos pernambucanos cresceu de 5 para 66. Esse quadro de grande prosperidade se manteve até meados do séc. XVII.
Outras duas importantes regiões produtoras de açúcar foram as capitanias do Rio de Janeiro e da Bahia.
A produção de açúcar concentrou-se nas grandes propriedades monocultoras voltadas para o mercado exterior por isso eram organizadas na forma de plantation.

Introdução do Barroco

O movimento barroco surge no Brasil com a chegada de colonizadores, missionários católicos e jesuítas, quando já se haviam passado cerca de cem anos da presença dos europeus no território. Nesta época, já haviam na colônia portuguesa uma população suficientemente grande para a criação de vilas, onde os residentes destas vilas viviam em luta para estabelecer uma economia auto-sustentável, além de terem que se preucupar com “invasões” indígenas. Neste contexto, floresceu o barroco no Brasil, num terreno de luta, sofrimento e incerteza, mas também num território onde houve muita paixão, coragem e religiosidade, e não menos deslumbramento diante da paisagem magnífica, sentimento declarado pelos colonizadores europeus e também pelos que aqui nasceram.

O poema épico Prosopopéia de Bento Teixeira, é um dos marcos iniciais do barroco no Brasil, porém, esse reflexo europeu é bem mais aparente nos poemas de Gregório de Matos e nos sermões do Padre Antonio Vieira. Não podemos no esquecer também de como ele foi manifestado através das esculturas de Aleijadinho e das pinturas do Mestre Ataíde.

(Obs.:É necessário lembrarmos que o Barroco Brasileiro era meramente um eco Europeu, pois não havia circulação aparente das obras, ou seja, não havia escola literária. Além disto, o contexto econômico em que o barroco se desenvolveu na colônia era completamente diferente daquele que lhe dera origem na Europa. Aqui o ambiente era de pobreza e escassez, com tudo ainda "por fazer", diferente das escuturas e da arquitetura européia, que eram muito mais sofisticadas e esbanjavam ouro e riqueza).

Características


O Barroco no Brasil é um reflexo do movimento estético e literário (da Europa) do conflito, da dúvida provocada nos homens diante da escolha que eles se viam obrigados a fazer: “a vida, o agora ou a eternidade?”. A arte Barroca na colônia retrata essa angústia do homem, de ora seguir o antropocentrismo e ora o teocentrismo. O Barroco faz uso do jogo de palavras (sinonímia, antonímia e perí-frase), do jogo de imagens (metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole), da agudeza e engenho na criação de suas obras e do uso da retórica. E é caracterizado pelo: fusionismo, o culto do contraste, o pessimismo, o feísmo, o rebuscamento, a teatralidade, a reflexão sobre a fragilidade humana.
Dentre os escritores que individualizaram o Barroco no Brasil, dois são mais reconhecidos, o Padre Antonio Vieira e Gregório de Matos.

Padre Antonio Vieira


Antonio Vieira nasceu em Lisboa, mas ainda menino veio com os pais para a Bahia, onde estudou no colégio dos jesuítas.
Os sermões escritos pelo Padre Antonio Vieira ficaram famosos pelo uso da retórica e pela argumentação engenhosa. O domínio das palavras garantiu a entrada do jesuíta Antonio nas cortes mais importantes da Europa e influência junto ao rei de Portugal. Porém essa mesma habilidade o tornou vítima da perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício. O fato, é que Vieira, assim como muitos portugueses, acreditava na volta de D.Sebastião, o rei desaparecido durante uma Batalha no Norte da África, ele acreditava que com a volta de D.Sebastião, Portugal poderia voltar a ser “grande país” que era antes, e até tornar-se o Quinto Império. Porém, essa crença era contraditória ao catolicismo. O Padre não poderia acreditar na volta do “Messias Sebastião” e que Jesus era o Messias e já havia voltado. O Tribunal do Santo Ofício passou a entender que Antonio não era católico, e sim judeu. Por isso lhe mandaram a carta e o julgaram.
Eis um fragmento de um sermão do Pe Antonio, exemplo da corrente conceptista:
"Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso da razão. Usar de razão e amar, são duas cousas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante".
(Vieira, A. Sermão do Mandato, 1645)

Diálogo Existente entre o Barraco e a Contemporaneidade

*A primeira estrofe da música é parte do poema homônimo de Gregório de Matos.
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante estás
E estou do nosso antigo estado
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado
Rico te vejo eu, já tu a mim abundante
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante
A ti tocou-te a máquina mercante
Quem tua larga barra tem entrado
A mim vem me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante
Triste, oh, quão dessemelhante, triste...
Pastinha já foi à África
Pastinha já foi à África
Pra mostrar capoeira do Brasil
Eu já vivo tão cansado
De viver aqui na Terra
Minha mãe, eu vou pra lua
Eu mais a minha mulher
Vamos fazer um ranchinho
Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua
E seja o que Deus quiser
Triste, oh, quão dessemelhante
Ê, ô, galo canta
O galo cantou, camará
Ê, cocorocô, ô cocorocô, camará
Ê, vamo-nos embora, ê vamo-nos embora camará
Ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará
Ê, triste Bahia, ê triste Bahia, camará
Bandeira branca enfiada em pau forte
Afoxé leî, leî, leô
Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte
O vapor da cachoeira não navega mais no mar
Triste recôncavo, oh, quão dessemelhante
Maria pegue o mato é hora, arriba a saia e vamo-nos embora
Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora
Oh, virgem mãe puríssima
Bandeira branca enfiada em pau forte
Trago no peito a estrela do norte
Bandeira branca enfiada em pau forte
ANÁLISE DA MÚSICA:

O eu-lírico olha pra Bahia e fica desolado ao se dar conta das
transformações sofridas por ele e, principalmente, pelo Estado. Nos dois
últimos versos da primeira estrofe, não há uma reflexão sobre o estado
psicológico ou amoroso ou físico sobre os estados do eu-lírico e da
Bahia e sim a queixa é de caráter marcadamente econômico.Note os
adjetivos substantivados pobre/rico/abundante.
Na segunda estrofe prevalece o aspecto puramente mercantilista para
caracterizar a situação em que o homem e sua terra natal estão:
ambos se vendem ou fazem negociações financeiro-mercantilistas.

Características do Barroco no Brasil que viraram tradição

Não é necessariamente culpa do Barroco, vindo na época colonial, que atualmente ainda vivemos na dúvida entre a vida, o agora ou a eternidade, também não é necessariamente culpa do Barroco que muitas vezes nos vemos angustiados diante de tantas incertezas. O homem, atualmente, continua à buscar pela conciliação entre opostos, um exemplo na sociedade de hoje, é o fato de as pessoas quererem ser independentes e ao mesmo tempo encontrarem o amor da vida delas...ou seja, criar dependência de um sentimento amoroso ou de alguém.
Algo que pode talvez ser considerado uma tradição barroca, é o fato de atualmente não nos limitarmos tanto aos nossos medos e criticarmos mais a sociedade onde vivemos, as autoridades, assim como Gregório.
A Literatura, as esculturas de Aleijadinho e as pinturas do Mestre Ataíde podem se dizer tradições também, pois pertencem à história da literatura e da arte brasileira, e o Barroco no Brasil possuiu um “traço” diferente comparado com o barroco europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado e sobretudo branco, apesar de todo ouro nas igrejas, pois muita coisa é de execução tecnicamente tosca, feita por mão escrava ou morena. Mas esse rosto impuro, mestiço, é que o torna tão único e inestimável.